sexta-feira, 26 de abril de 2013

A hora certa


Tique, taque, tique, taque. As horas e os minutos são iguais; a pergunta sacana e sem-graça é a mesma de sempre: "mãe, você está pensando em mim?".

Estou de olho na caixa de correio há dias, cantarolando please, Mr. Postman de maneira dramática e chorosa. Aquela resposta ainda não veio; mas, quando vier, não sei bem se quero saber qual é. De um lado, a possibilidade de que um amor tenha morrido na guerra, uma batalha tenha sido perdida, um plano tenha se frustrado. Do outro, um amor que sobreviveu a feridas brutais, uma batalha ganha, uma emenda que saiu melhor que o soneto. Já tenho minha (óbvia) escolha: o outro lado. Mas estamos jogando Vida, e nem tudo é uma questão de escolha; é ela quem dá as cartas e você, peão, é quem roda. Ou vence.

Talvez eu guarde aquele envelope dentro de um livro velho e arquive o assunto na minha consciência, pelo amor do esquecimento. Nem que seja para não aguentar nem cinco minutos até rasgar impetuosamente aquele envelope frágil - não; frágil sou eu. Mas até que tenho aguentado firme, mesmo que sem paciência - é que escrevi stay strong umas 58 vezes, à caneta, na parede do meu quarto, e mais uma na testa.

Dizem que está com previsão de chegada na "hora certa". Mas que porcaria de "hora certa" é essa? Algum tipo de carma ou clichê de livro de autoajuda? Disse o Sábio, com outras palavras, no livro de Eclesiastes: "as coisas acontecem quando têm de acontecer". Mas como é que isso funciona? Se pagar Sedex 10, será que chega amanhã? Será que chega, pelo menos, até semana que vem? Será que chega ontem? Ou anteontem? Chamem os carteiros, o Corpo de Bombeiros, a cidade inteira e o resto do mundo: a hora certa tem que ser agora. . Shazam!

Shazam? 

...

Sha...ZAM?!!

É... acho que não funcionou.

Tique, taque, tique, taque. Que horas são? Já é hora? Já chegou a tal da "hora certa"?

Checo mais uma vez a caixa do correio. Nem sinal. Mas a resposta está a caminho - nas costas de um caracol. Mas está.

Mas mãe, seja qual for a resposta: se as coisas acontecem quando têm de acontecer, elas também devem acontecer do jeito que devem acontecer, não é? O preço da resposta? Aceitá-la e fazer o melhor que se pode fazer com o que ela nos deu.

Lá vem o carteiro de novo; cantarolo Mr. Postman em meu pequeno ritual cotidiano. Quem sabe é hoje, aqui, agora? Quem sabe é esta a hora certa? Eu, sinceramente, não sei. Mas, quando ela chegar, vou abrir aquele envelope e sorrir para o que quer que encontrar dentro dele.