domingo, 3 de agosto de 2014

Intenso

Talvez ainda seja cedo para definir este como o ano mais intenso de toda a minha vida.


Você vive o quanto basta, mas já não é o suficiente. Você precisa estar em todos os acontecimentos, com todas as pessoas, em todos os lugares; tudo ao mesmo tempo. E, então, tudo muda. E você vê pessoas que ama partirem - e você, bem, você tem que ficar. Porque ainda não chegou a sua hora. E você descobre que algumas das pessoas que partiram precisam mesmo é ir com Deus, porque talvez não fossem quem você pensava que fossem. Mas paciência. A elas, tudo de bom. A você, mais sorte na próxima vez.

E, nessas noites quentes, voláteis e etílicas, você se perde entre pensamentos de verão e juventude: não vai durar muito. Porque nada dura muito quando se trata de verão e juventude. Quando eu era criança, meia hora parecia uma eternidade, e eu perguntava vinte vezes para a minha mãe quando é que a gente iria chegar. Se o bolo já estava pronto. Se eu já tinha idade o suficiente para usar batom vermelho.

Por isso, bebo a vida aos goles. Às vezes, bebo com tanta pressa e desespero, que me afogo. Mas, se me afogo, rio. É o rio da vida seguindo em fluxo solto, me fazendo cócegas demais. A ponto de fazer com que as noites de sono e tardes preguiçosas de domingo pareçam uma grande perda de tempo. Oito horas por dia, cinco dias por semana, sirvo ao mundo corporativo - mas o que fazer com as outras dezesseis horas e os outros dois dias?

Viver ao máximo é algo que a gente nunca aprende o suficiente - e, no final da vida, por mais intensa que ela tenha sido, talvez fique aquela sensação de que as noites poderiam ter sido ainda mais curtas; os dias, ainda mais longos; o sol e os sonhos, de janeiro a janeiro. Foi o que nos ensinou um grande hedonista e pensador, o rei Salomão: tudo é vaidade. Todos os meus batons e vestidos e noites em telhados, debaixo de mil e uma luas, são vaidade. E já estou atrasada. Vamos, então, morrendo de pressa, desperdiçar nossos dias não em camas ou em carros ou entre quatro paredes - vamos, que a noite é uma criança, e que o dia quer nascer feliz.

A gente nunca aprende a viver completamente. Mas viver é como dançar com um homem: se ele sabe conduzi-la, você não sabe como, nem de onde, nem por que, mas dança. E dança. E o tempo de uma noite é medido em quantas músicas vocês dançaram sem perceber, nem saber - mas dançaram. É assim que se vive (mas, disso, eu não tenho assim tanta certeza).

Porque viver de verdade é a maior das utopias. Mas são as utopias que nos movem de um lado a outro do salão. A música ainda não acabou. E, se acabar, logo outra começa. É só não parar de dançar.