sábado, 11 de outubro de 2014

Eureca!

 
O quarto tá uma bagunça. O coração, então, nem se fala. Já não me preocupo com o que é clichê ou não é, porque, no fim das contas, todo mundo passa por isso de vez em quando: é a crise dos dezessete anos vindo à tona muitos anos depois. Pois, muitos anos depois, ainda somos os mesmos jovens solitários do coração partido: perdidos, confusos e cheios de sonhos. O que será de nós, ó, mundo cruel?

Eu já não ando a passo lento - a cidade grande nos obriga a sobreviver a passos largos e rápidos; quem chegar por último é a mulher do padre. Até nisso precisamos ser os primeiros: a fila do metrô, o almoço com a amiga... meia hora de atraso. Por mais que eu corra, estou sempre atrasada. A culpa é do trem; essa linha 7 não funciona direito aos finais de semana. Eu perco tempo - e me perco. Mais de uma vez. Uma, duas, três semanas passaram voando e de raspão - mas aquela noite de serão mais pareceu uma eternidade. Meu ser incauto é violentado pela dúvida: será este o caminho, meu Deus?

A vida cobra, e você sabe como dizem que o relógio biológico é cruel para com as mulheres - que, ironicamente, vivem mais. Estar na cama no horário a semana toda para varar, de sol a sol, de sexta e sábado, noites de glória nos terraços da cidade: temos apenas dois dias na semana para nos tornarmos lendas do rock. We are young, so let's set the world on fire. Escrevi cantando. E, cantando em silêncio, com a voz da mente, escolho os brincos - e as companhias. É sábado à noite, e tem alguém me esperando. Às vezes, uma porção de gente. Às vezes, eu não ligo, ninguém liga e nada acontece - mas, enquanto eu tiver meu violão e meu diário, nunca estarei cem por cento só - ah, a bênção e a maldição de ter nascido artista! Pois, nesses momentos, até mesmo a minha própria presença é gente demais para uma pessoa só. E todo mundo sabe que abafar pensamento com fone de ouvido só dá certo na música da Regina Spektor. E que, para fugir de si mesmo, não basta cobrir o espelho e se mudar para Marte - ou será que pensamentos não ecoam no vácuo?

E, se alguém me perguntar qual é a minha maior paixão, responderei que é isto aqui: eu amo escrever, e, na maior parte do tempo, essa é uma das pouquíssimas certezas que tenho. Embora o tempo e sua voracidade implacável tentem me sugar a energia e as palavras. Embora os pensamentos cabunebulosos se emaranhem em uma palavrada difícil de desembaraçar. Embora o amor, as certezas e as coisas que, um dia, eu achava certas, mas sobre as quais me enganei feio, insistam em me escorrer pelas mãos. "A nossa hora vai chegar", eu disse e repeti à uma grande amiga, ontem e também três dias atrás. Mas, para mudar, não basta ter sonhos e boa vontade: então, o que fazer?

Enquanto quebro a cabeça (e a cara) tentando descobrir, sigo firme com minha única certeza e continuo escrevendo. E, quando eu descobrir, pode ter a certeza de que vou escrever, em detalhes, como foi que cheguei a essa conclusão. Eureca!