quarta-feira, 22 de maio de 2013

Longitude



            No meu calendário, há dias demais; e longos demais, demais, DEMAIS!
E, neste rosário, a prece se faz: que os dias me tragam de volta a tua paz. E, neste rosário, a prece se faz: que os dias me tragam de volta a tua paz. E, neste rosário, a prece se faz: que os dias me tragam de volta a tua paz. 
No fim das contas, eu perco a c
                                                                                                     o
n

                                                                t

                                                                     a

                                                                              ,

                                                                                e nem me dou conta:
Faltam três
(  ) dias
(  ) meses
(  ) anos
(x) tanto faz.
Se me faz falta?
Ah, isso, faz.
E faz demais!
Que falta que eu sinto do meu rapaz...

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Planeta Solidão


Olá. Seja bem-vindo ao planeta Solidão.

Na verdade, ninguém é tão bem-vindo assim... Mas, já que pôs um pé, vá colocando logo o outro, que não gosto de rodeios.

Senhora ou senhor, saiba que não estou acostumada com "respeitáveis públicos". Não gosto de ser feita de palhaça; portanto, prometa que não vai rir. Isto não é um circo. Mas, para mim, tem toda a graça do (meu) mundo.

Credenciais aceitas, visto muito relutantemente carimbado e burocracia cumprida, sem mais delongas. Pode entrar. Não repare a bagunça. Mas, se reparar, também, que se dane. Meu mundo é um coração com uma porta - parece mais um cômodo grande, vermelho e com desenhos nas paredes. Num canto, um grande divã. Tem uma varanda grande, quase um terraço - e, lá fora, tem uma cidade que desconheço, com árvores, casas e um céu azul. Lá fora é aonde vou para fugir de mim mesma de vez em quando. Ou, ao contrário, me encontrar. Não me julgue: eu sei que você já tentou fazer isso pelo menos umas três vezes nos últimos dois meses.

Sou a única habitante do planeta, como o próprio nome já diz. E sabe o que é incrível? Não tenho vizinhos! Mas tem um violão em cima da cama. E, neste outro mundo, posso tocar violão de madrugada e cantar a plenos pulmões, sem esperar berros ou reclamações. Posso também tomar sorvete antes do almoço e andar descalça sem sentir frio.

As paredes são tão vermelhas; mas o divã tem listras brancas e azul-marinho. E o espelho não diz a esta outra "eu" se existe alguém mais neste mundo. Ele me diz verdades secretas sobre mim das quais tento fugir no seu mundo. Veja bem, que este não é o planeta Ego; em Solidão, os erros se tornam mais evidentes, e, os arrependimentos, um pouco mais doídos. Pois é aqui que se pensa na vida e também na morte, por inteiro e como um todo. As verdades que o espelho me disse estão pregadas nas casas onde mora ninguém, escancaradas nas nuvens, escritas na distante atmosfera de gás lacrimogênio. A estrela da Saudade impera absoluta e ilumina o planeta com um azul triste e mórbido - dá uma pontada de dor no coração da gente só de olhar para ela. Como nos arde a vista salpicada de pontos de luz ao olharmos para o Sol.

Mas, apesar de termos sido banidos da órbita do Sol, o céu ainda é azul lá fora. E as luas novas e gêmeas sorriem sempre; as rosas virgens furtam as cores da atmosfera, e tingem o intangível horizonte de uma beleza triste. São elas a minha companhia muda nos momentos em que a solidão é mais intensa; é quando solto o corpo aos poucos e me deixo sobrevoar lentamente o roseiral, em gravidade zero.

Agora vá, que devo ficar sozinha. No planeta Solidão, não há espaço para novos habitantes ou visitantes extraplanetários. Vou ficar bem, como sempre foi e sempre há de ser. Preciso manter viva e secreta a tradição da solidão, ou isto aqui vai lotar de gente. E, de gente, o mundo de lá já está cheio; vim aqui exatamente para fugir dessa gente. Vá procurar um planeta para si. Caia fora, que já passa da hora de dormir; quero tocar violão.