quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Esqueça.


Eu me conformei com não ter você. Desde muito antes da última vez em que te vi.

Assim como eu me conformei com não ter 1,75m e ser uma super modelo, ou com a chuva que estragou meus planos para o fim de semana, ou com as intermináveis, cotidianas horas no trem, ou com as leis da Física, que regem minha vida com ou sem minha permissão, ou com as escolhas que fiz e que não fiz. Eu me conformei com tudo isso - e me conformei com não ter você.

Afinal, não há como mudar certas coisas. E, com essas coisas, a gente tem de se conformar.

Dias, semanas e meses. Paraísos imaginários e ímpetos de fúria. Como quando apaguei todas as suas mensagens de uma vez. Para, depois daquela festa, sair dançando pelas ruas vazias, embriagada de um carinho besta. Como quando, finalmente, consegui te olhar fundo nos olhos - redondos, expressivos, quentes - olhos de madeira, de lareira. Como quando você sorri desconcertado, simpático sempre, até para as paredes - o que tanto me seduz e, mais ainda, me irrita.

Hiato. Acho que perdi um amigo. De você, só me restou uma simpatia formal e diplomática - a mesma que você oferece a quem interessar, ou mesmo às paredes - acompanhada sempre de desculpas esfarrapadas. E, nesse vácuo, sigo inerte em direção ao infinito - você ficou pelo caminho, perdido em algum lugar no espaço.

Hoje somos dois estranhos - semi-conhecidos, talvez. Mas, pensando bem, a gente não faria mesmo o menor sentido - eu, temperamental, você, bipolar. Nem opostos, nem avessos - talvez não sejamos compatíveis. Ou, talvez, simplesmente "não era para ser". Ou era, e nós nos perdemos no caminho?

E eu me pergunto como será quando você voltar daquela viagem - você provavelmente vai entrar por aquela porta como todas as manhãs, com seu chapéu de inverno e seus mesmos olhos de garoto no rosto perfeito de homem feito. Nós ainda seremos os mesmos, e vamos continuar a fazer as mesmas coisas de sempre e viver da mesma maneira - até que um novo momento chegue e mude tudo outra vez.

E ele chegou: o famigerado, irreversível, inevitável momento de seguirmos nossos caminhos. Porque, um dia, eu sei, eu serei um pouco menos cética, e você será um pouco menos frio. Nós vamos conhecer pessoas bacanas que nos completem, vamos nos apaixonar de verdade, vamos aderir ao pacote família-filhos-e-tal, vamos começar a dormir mais cedo, vamos começar a pensar em nomes de criança, vamos mudar nossas prioridades e estabelecer novas metas... talvez até mesmo viver o clichê da felicidade, cada um com seu bem-querer.

Até, por fim, esmaecermos na memória um do outro, tornando-nos memórias corriqueiras - marcas d'água desbotadas no fundo do passado, de tudo o que vivemos.

Você não foi o primeiro, nem será o último. A vida vai e vem, e essas coisas de desejo, emoção e sentimento continuarão a se confundir e a se misturar, como sempre fizeram, desde que o mundo é mundo. E, com isso, eu já me conformei há muito, muito tempo.

sábado, 24 de novembro de 2012

Galáxia


Texto escrito em um celular, entre mil devaneios de céus da Grand Central.

Eu quero é ficar da cor do céu da Grand Central.

A atmosfera apaixonada das luzes baixas, os zodíacos estrelados tatuando o céu de gesso, os intrigantes arabescos confundindo-se com minhas cismas... Enlace perfeito de solidão e ócio. O ruído mudo das multidões apressadas, fugindo e correndo do mundo e do tempo, com pressa de chegar a qualquer lugar de Nova York. Correm sempre, aos solavancos, mesmo em um fim de semana à toa. Rodas roçam o chão - privilégio da malaria móvel e sorte de quem a carrega. Mas há também discretas malinhas e mochilas, que, por sua vez, flutuam em sua praticidade e discrição, sem alarde ou arrastação. Corre povo, corre gente... mas há ainda quem passeie sem tanta pressa nem hora de chegar.

Varro com os olhos a poeira cósmica das estrelas que tatuam o azul - pirlimpimpim americanizado, mas que, garanto, não invalidará a energia do desejo, da prece que estou prestes a fazer: eu só quero ser a cor do céu da Grand Central - misteriosa e simples, psicodélica e pseudo-mágica, fotográfica megalomania, golfão de cismas dos apressados, musa dos poetas urbanos, remédio dos olhos dos que viajam e correm, ou que, tão sós e tão-somente, passeiam, e param, e se deixam perder para sempre, na infinidade de um ou de um milhão de milésimos de segundo, na cor do céu da Grand Central.