quarta-feira, 18 de abril de 2012

Fantasmas

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Para ouvir: High and dry - Radiohead
Era ela, acordando às nove, com um sentimento esquisito em relação à noite passada.

Ou melhor, sem sentimento nenhum. Como se tentasse acordar de um sonho, sem sucesso. Como se se beliscasse desesperadamente, procurando sentir qualquer dor. Nada. Nem dor, nem cócega, nem sensibilidade. Nada.

Fora dormir ressentida, arrependida como sempre - embora desta vez tivesse sido diferente, como tem sido há algum tempo desde que ela o reencontrara. A mesma encrenca de sempre.

Mas ela não queria encrenca. Não mais. Ela queria deixar de ser tão complicada e insegura, refém de seu caráter sempre tão premeditado, cauteloso até. Menos do que parecia, mais do que ela gostaria. Ou o contrário.

De bruços, virou-se de lado, como um morto entregando-se de vez à agonia. "Meu Deus." O coração disparou. Os olhos arderam, como na noite passada.

Seus fantasmas ainda a perseguiam. E ela não queria admitir.

"Você é uma garota imatura. E insegura. E você sabe disso."

Aos vinte e três. Imatura. Insegura. Adulta, coisa nenhuma. Um paradoxo vivo. Com suas três tatuagens, seus cabelos curtos e sua porcaria de independência aparente, não sabia o que realmente queria. Cegada pela razão, tornou-se incapaz de tomar certas decisões com o coração. Ou seria o contrário?

Sua vida era uma canção do Radiohead. E ela estava em carne viva outra vez.

E começou a se lembrar dos julgamentos da adolescência, dos rótulos da infância, e do quão péssima ela era em relacionamentos. Em se entender. Na contraditória e impossível obrigação pregada pelos subversivos de "não se preocupar com o que os outros pensam" - sem deixar de se importar com as pessoas, em nome da filantropia, sabe como é.

E se cansou de viver às voltas com suas crises de humor, com seus altos e baixos, entre a vontade de ter cabelos longo-hippie e cortar joãozinho. Cansou de pensar tanto na vida, mas sabia que inconsequência é o sobrenome da burrice. Cansou de se julgar tanto, de se analisar tanto, de sentir dor por ver seus fantasmas voltando. Medo de não ser compreendida. De não se compreender.

Toca o celular. Mensagem. Ele. Ela não vai responder. Nem hoje, nem amanhã. Não até que ela consiga afugentar novamente seus fantasmas por mais um bom tempo. Porque eles sempre voltam. Eles sempre voltam.

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