quinta-feira, 18 de julho de 2013

Só eu


Às vezes eu preciso é de umas férias de mim mesma. Fazer a muda, tirar primeiro a pele, depois a carne, depois os nervos, as veias e os ossos, até sobrar só eu. A alma eu, solta e séria. Séria, sim, sem meios sorrisos, nem meias verdades. Séria, mas não infeliz. Apenas eu. Nenhuma expressão além de ser a própria expressão de mim mesma. Sem o peso das ideologias e das estruturas das estruturas das estruturas das quais sou tecida. Vontade de puxar o fio e desfazer logo a malha toda - de ficar amontoada num novelo de mim mesma, meio sem ter que saber quem eu sou, sem que isso seja um problema. Sem que eu precise saber. Um novelo que rola e se esparrama pela sala, contornando os cantos, aleatória, desenfreada, sem paredes que possam me parar. Pondo abaixo os muros junto com as roupas, a pele, as ideias. Sendo mais do que aquela que vejo no espelho. Trocando o sou pela soul.

Pois ser assim, só eu, não é sempre assim. Não se pode ser sempre só eu. Ser  eu é ainda menos do que sou ao sair do banho - nua, limpa, desfeita, com os cabelos para trás. É menos carne, menos mente, menos pensamento. Só alma, e um pouco mais de cor. Matando um pouco da realidade. Um balão de gás preso apenas por uma corda invisível à realidade de mim mesma.

Mas a vida é brava e breve, e é preciso me recompor. Enrolar o novelo, refazer a malha, colar os ossos, os órgãos, fechar a pele. As cicatrizes ficam; a cura é certeira. E, dessa longa viagem de férias, retorno, risonha ou triste, moleca ou madura, vestida ou descalça, do jeito que a vida me permite ser naquele momento. E, de ser só alma, passo, de novo, a ser eu. Como sempre foi e sempre há de ser.


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