domingo, 30 de dezembro de 2012

Trinta e um do doze.


Vê: eis que ainda há tempo!

Adeus, velho amigo, velho tempo, velho ano! Já não era sem tempo, por mais que eu tenha te pedido encarecidamente, "fica mais um pouquinho". Adeus, amores mal-resolvidos! Adeus, ditos, não ditos, desditos! Adeus, manias irritantes - mas só até eu pegá-las de volta. Adeus, momentos inesquecíveis - a estes, não tão "adeus" assim, já que fiz pingente de todos e, agora, trago-os aqui, atados ao pescoço, junto ao peito, que é para não perdê-los jamais, nem por um instante sequer. Adeus, loucos e enamorados! É hora de pegar o trem e botar o pé na estrada! É hora de acordar para cuspir, de botar o bloco na rua, de botar para quebrar, de dar a cara a tapa, de criar vergonha na cara, de tomar uma atitude - que, para tantos, será apenas a atitude da inércia. Arruma as malas, velho amigo! Junta as tralhas, os tesouros, os trapos e teus últimos centavos furados, e corre! Corre em direção à costa das desilusões, junto aos anos que já partiram! Corre em direção aos outros amigos velhos, sorrisos velhos, alegrias velhas nutridas das lágrimas secas, das águas passadas e dos sóis que se puseram! Corre, que a vida tem pressa!

Mas, antes que te vás, devo dizer-te "obrigada". Sim, pois foste um amor de ano - deveras divertido, fantástico e inovador. Transformaste-me naquela doida imperfeita que gosto de pensar que sou hoje - e que sei que não é quem costumei ser um dia, antes de chegares. Não me trouxeste todas as certezas, nem todos os argumentos em minha defesa neste mundo perdido e louco - mas, embora não me tenhas sido advogado, foste-me professor, terapeuta, chefe e amigo. E tão inesquecível amante! Tanto é que tive medo, tanto medo de perder-te! Implorei mentalmente pela tua eterna permanência, pois foste bom demais até mesmo para seres verdade. Amei-te com amor de errante amante, bebi-te à gota última, e me deixaste com sede. Gostei de verdade de ti; mas conformei-me em perder-te. Aliás, perder-te, não: deixar-te partir. És livre, impetuoso, selvagem e inevitável. E, como tal, não te posso engaiolar.

Vai, voa, perde-te no tempo! Vai errar pelas eras, vai perder-te no espaço, vai voar pelos ares num foguete de artifício! Já não és tu que me deixas, mas eu é que te deixo ir. Eu deixo, pois sei que o farias de qualquer modo se assim eu não o fizesse. Vou-me também, ao cais, à costa, para despedir-me de ti - lenço em punho à beira-mar, qual dramática donzela abandonada por um grande amor do passado. Sim, querido: o sol se pôs. Tu me viste crescer, velho amigo - é minha hora de abrir os braços para um novo ano. Pois vivo de receber esses efêmeros, viajantes amores todos os anos - vai-se um, recebe-se outro. São casos com prazo de validade, paixonites intensas consumadas sob fogos de artifícios e juras inconsequentes, tantas vezes descumpridas.

E, ao novo ano-amor, não farei promessas que não poderei cumprir - afinal, nem sei ainda o que espero ou devo esperar desse novo amor. Por ora, somos eu e tu - e é chegada a hora de dizer-te adeus. E sei que partirás sem olhar para trás. E que não tornarei a (vi)ver-te novamente - nunca mais. Um último aconchego em teus efêmeros braços, um último beijo em teus flamejantes lábios, e eis que tua chama se apaga em mim, para todo o sempre.

Feliz dois mil e nós dois, e feliz ano-amor que está por nascer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário